terça-feira, agosto 28, 2012

Carta a uma vestibulanda

Eu sei que tenho andado meio sumida por aqui. Sei também o quanto é difícil para mim me abrir assim, para toda a internet. Dizem que geminianos falam muito sobre poucas coisas e nada sobre muita coisa. Acho que, de todas as pessoas que já conheci na minha vida, nenhuma sabe de tudo que eu poderia ter contado. É que simplesmente eu acho que não é do interesse delas saberem de certas coisas. Ou talvez eu tenha medo de perdê-las se contar algumas coisas sobre mim. Se penso isso de pessoas que me conhecem há anos, como posso abrir meu coração para uma página em branco com o cursor ali, nervoso, ansioso, esperando que eu desabafe tudo que quero?

Mas mantenho muito mais ativo meu tumblr. Além de ser mais fácil de atualizar, posso colocar todo o nonsense que a internet oferece. E nisso agradeço meu ex, porque foi com ele que aprendi a gostar de coisas sem sentido algum (não que ele fosse alguma coisa sem sentido, acho inclusive que ele fez a maior parte com sentido da minha vida). E quase uma semana atrás recebi uma pergunta anônima no tumblr sobre o que era o jornalismo. Nem respondi porque estava com preguiça. Mas aí, a pessoa perguntou de novo. Dessa vez, com um texto mais curto, mostrando que ela queria minha opinião, mas também estava um pouco sem paciência para me convencer a escrever só pelo carinho e tudo o mais.

Eu respondi a essa pessoa o que é o jornalismo para mim. E venho aqui copiar o que escrevi lá porque acho que alguns estudantes que pensam em cursar jornalismo podem ver o texto e se interessar pela profissão ou desistir logo de uma vez dela. Inspirada naquelas "cartas a um jovem..." copio abaixo minha própria "Carta a uma jovem vestibulanda que quer cursar jornalismo".


"Cara.. Jornalismo é overrated. Na época de Machado de Assis, jornalista tinha o mesmo status de um advogado ou médico. Hoje, não é mais assim. Muitas empresas usam do nosso ego de aparecer em algum lugar para nos “fazer comprometer mais com a empresa”. Eu chamo isso de escravidão. Eles fazem você ficar horas a mais, não pagam muito bem as horas extras e te obrigam a perder o final de semana ou o feriado, já que a notícia nunca para. Um amigo meu estagiava num jornal e ele basicamente não tinha vida na época de estagiário. Hoje que é efetivado, continua não tendo.

Se você não é ultra apegada à sua família ou a dias de descanso, então você vai gostar de jornalismo diário. Eu simplesmente não tenho organismo para aturar pressão 24 horas do dia. Se você não tem vergonha da câmera, saiba que poderá trabalhar de graça para grandes empresas (tenho uma amiga que trabalhou numa tv por 6 meses todos os dias sem receber nada). Se você não tem vergonha da sua voz, saiba que muita gente também curte rádio (é só ver a qtde de podcasts por ai). Se você gosta de um único assunto, então faça letras, porque com jornalismo muito raramente você irá trabalhar com aquilo que gosta o tempo todo. 

Agora, se você gosta de trabalho em grupo, correria, e não se importa com gente morrendo, você vai se dar bem no jornalismo. Costumamos pensar que Jornalismo é glamour, mas minha primeira matéria para um jornal era de um cara que tinha caído de paraquedas. Como ele não tinha morrido, a matéria não vingou. É esse sangue frio que se precisa. Não cobriremos SPFW todos os dias da vida, nem entrevistaremos o Brad Pitt sempre. Terão muitos acidentes em rodovias antes disso. 

Para mim, a Unesp foi o melhor momento da minha vida. Sofri, chorei, descobri o pior em mim, enfrentei meus monstros pessoais, meus traumas. Aprendi a viver sozinha, larguei minha carência afetiva. Enfim, cresci. A Unesp, sem dúvida, me tornou uma pessoa melhor. Recomendo a todos que façam faculdade em outra cidade. O crescimento pessoal é inacreditável.

Já o curso da Unesp é muito bom, embora muitos digam o contrário. Como a faculdade é publica, prepare-se para greves, festas, manifestações, palestras, falta de professores e tudo o mais. No entanto, te garanto que a maioria do que aprendi na Unesp foi mérito meu. Eu fui na biblioteca e devorei tudo que vi pela frente. Em menos de dois anos eu tinha lido mais de 48 livros. De clássicos da literatura, passando por filosofia, antropologia, psicologia, arte. Eu li muito e não é nem 1/5 do que a biblioteca te oferece. Os projetos extra-curriculares também foram muito importantes. Neles você irá aprender o que é trabalhar de graça e quanto vale o esforço.

Eu sofri muito na faculdade, tive poucos amigos, muitos momentos de choro desesperados. Mas tive também muitas risadas, muitas alegrias e muita cerveja.

Se você realmente ama escrever, mas não teria problemas se alguém pegasse seu texto e limpasse o cocô do papagaio com ele, então faça jornalismo. Se você é apegada demais às suas palavras, faça letras e escreva livros. Se você quer uma vida com salário baixo e muito trabalho, você se dará bem com o jornalismo.

A primeira vez que deixei de escrever “estudante” na parte de “profissão” nos formulários e passei a escrever “Jornalista” foi um dos momentos mais felizes da minha fase adulta.  

No ano que eu passei na Unesp, eu passei em Engenharia Florestal na Ufscar. Quando eu descobri isso pensei “uia! agora poderei ficar rica!” mas quando passei na Unesp minha alegria foi muito maior. Minha mãe olhou para mim e disse “Você quer ser pobre na vida, né” Eu acenei a cabeça, contendo as lágrimas de felicidade. Ela continuou “Então vá fazer jornalismo, minha filha. É o que você quer”. Eu nunca pensei que o jornalismo fosse outra coisa. Li muito e pesquisei muito. E nunca me arrependi da minha escolha. Escolha bem você também. Boa sorte. :)"

domingo, junho 10, 2012

Hoje é seu dia, que dia mais feliz

Engraçado como são necessários anos de amor, companheirismo e respeito para se ganhar uma amizade de verdade. Mas basta apenas uma coisa para abalar toda essa estrutura.

Eu não tenho nenhuma religião, por isso não temo a morte. Para mim, acontecerá com o meu corpo o mesmo que acontece a um animal qualquer devorado por um crocodilo. Não, não espero morrer e ir para o estômago de um réptil. Mas acho que quando você morre, game over. Acabou.

Por isso vivo tão intensamente meus relacionamentos com as pessoas que me cercam. Se eu quero te abraçar, eu irei. Se quero te chamar de xuxu, paxão, amore, eu vou chamar. Se estou com raiva de você, vou te mandar à merda. Mas raras vezes eu guardo algo por muito tempo. Porque guardar coisas por muito tempo faz mal, magoa e dói.

Para mim, o dia de ano-novo não significa muita coisa. Acredito mais no poder da data de aniversário. Não na minha, mas nas datas daqueles que eu gosto. Porque eu sei que talvez eu nunca mais veja aquela pessoa de novo, mas quero que ela saiba que, durante o ano que ela passou comigo, eu gostei muito da companhia dela. Aprendi em Bauru que algumas amizades tem prazo de validade. Mas isso não diminui em nada sua intensidade. Gosto da data de aniversário porque é nela que eu demonstro o quanto eu gostei de passar mais um ano com aquela pessoa. E é claro que eu aplico essa ideia para a minha própria data de aniversário. Sempre passei meses planejando a festa, quem eu iria chamar, onde iria ser, o que iria tocar. Mas, como não sou religiosa, não forço ninguém a compartilhar minhas ideias.

Eis que no ano passado, estava desempregada, ficava o dia todo em casa e me sentindo sozinha. Resolvi marcar um aniversário especial, em algum lugar onde ninguém fosse reclamar da comida. Marquei no Outback porque sou apaixonada pela cebola de lá. Criei um evento no facebook e chamei quase 100 pessoas. Não queria que 100 pessoas fossem, mas queria que 100 pessoas soubessem que eu gostaria da presença delas. Muitas pessoas começaram a se desculpar dizendo que não poderiam ir ao meu aniversário.  E eu já esperava por isso, afinal, resolvi comemorar a data num sábado à noite, dia 11 de junho, véspera do dia dos namorados. Mas a culpa não é minha se eu saí do útero um dia depois do dia 12.

Tinha aceitado todos os "já tenho um compromisso, fica pra próxima" menos de uma pessoa. Minha amiga de verdade, uma das poucas pessoas que eu contei quase tudo sobre minha vida comentou no evento algo como "você sabe que quem namora não vai poder ir, né? Vê se tem alguns solteiros que podem ir com você". Em um único comentário ela disse que eu era: encallhada, sozinha, e que ela, feliz em seu relacionamento perfeito, não poderia sair na véspera do dia dos namorados para me ver.

Parece demais, mas foi o que senti. Cancelei o evento e não comemorei nada. Se meus amigos não querem demonstrar o quanto estão felizes por mais um ano na minha presença, não irei obrigar ninguém. Sendo assim, reunindo todos esses dados, apaguei a data do meu aniversário do facebook e não marquei nenhuma comemoração.

Afinal, não é porque eu acredito na data de aniversário como um motivo para celebrar com a pessoa querida que os outros tem que fazer o mesmo, correto?

Mas, bem lá no fundo, eu gostaria muito de uma bela festa com todos aqueles que querem me dizer que o ano que passaram comigo foi muito bom e esperam mais um ano assim também.

domingo, maio 13, 2012

Mundo quadrado


Quando eu era pequena, uma vez perguntei a minha mãe porque eu não enxergava de longe. Ela me respondeu que era normal, que a partir de uma distância a gente não enxerga mesmo. No carro, à noite, eu dizia que enxergava as luzes dos carros e as luzes do aeroporto da cidade como grandes bolas. Eu acho que meus pais achavam que eu estava inventando. Aos nove anos, a “nerdinha” da sala foi recolocada no fundão, para acalmar os ânimos do pessoal (imagine o quanto eu gostei de ser popular e ficar no fundo, sem assunto, servindo como um “cala a boca, galera”). Eu aprendi a ler aos 6 anos, no Jardim III com as revistinhas da Turma da Mônica. Fui oradora da turma de formatura porque eu já sabia ler e todo mundo ficou orgulhoso de mim. Então, aos nove anos, no fundão, a professora me pede para ler na lousa. Minha resposta infantil foi: “Eu não sei ler, fessora”. Ela recomendou à minha mãe que me levasse no oftalmo.

Fiz os exames e comecei a usar óculos. Mas não se engane, achando que eu usava míseros 0,25 em cada lado. Meu primeiro par de óculos tinha um grau um tanto assustador: 2,75. Lembro que minha mãe perguntou porque eu nunca disse que não enxergava de longe. Mas é que quando ela disse que a partir de uma certa distância a gente não enxergava direito, eu achei que tava tudo certo. Só que a minha distância só era bem menor do que o normal. Meu primeiro óculos era da Turma da Mônica, formato gatinho, roxo em cima, rosa em baixo. Adorava aquele óculos! Mas com ele, vieram algumas limitações. Tive que deixar o time de handebol, não pude mais jogar volei com todo mundo, e até as aulas de judô ficaram mais limitadas.

Depois do gatinho roxo e rosa, veio um marrom grandão, um preto, um sem armação, um com meia armação preta e, finalmente o meu atual, totalmente fechado e vinho. Escolher óculos era sempre uma tortura porque eu sabia que ia mudar completamente meu rosto. Mas me acostumei a enxergar o mundo assim, meio quadrado. Saltei do sky coster sem ver onde estava de verdade, e tranquilizei um menininho na montanha russa quando ele me perguntou “você não está com medo da altura?” Eu, sem óculos, sem enxergar um palmo na frente do meu nariz, respondi “claro que não”. E ele se acalmou e se divertiu.

Nadar sem enxergar é como nadar num mundo translúcido verde ou azul. Algo bem parecido com a forma que Saramago descreve a cegueira branca. É nadar num mundo aquático lodoso. A primeira vez que mergulhei de lentes e óculos para mergulho, eu chorei. Jamais imaginei como o mundo embaixo d'água pudesse ser tão lindo. Ir ver filmes de terror era muito cômodo. Para não parecer uma medrosa completa, eu tirava os óculos e ficava admirando uma tela gigantesca em blur. Quando estava com raiva do mundo todo, pegava meu fone de ouvido e tirava os óculos. Nada mais importava. Não via mais ninguém.

A única forma de me fazer chorar imediatamente: quebrando meus óculos. Uma vez fui atropelada (por uma bicicleta) e a primeira coisa que eu disse quando abri os olhos foi perguntar pelos óculos. Uma pessoa embaçada me respondeu que um carro tinha passado por cima deles. Comecei a chorar. Treinando dança de espada, risquei uma lente; caí no berreiro. Minhas lembranças bêbadas são todas embaçadas. Não por causa do álcool. Mas porque alguém sempre tirava meus óculos e eu nunca soube de verdade quem me ajudava.

Eis que amanhã irei fazer a cirurgia de miopia. Meus atuais 5,50 (e 1,75 de astigmatismo) poderão se dissipar para sempre. A cirurgia não me dá certeza completa de que nunca mais terei miopia. E a grossura da minha córnea permite que eu faça essa cirurgia apenas uma vez. Tenho uma única chance de nunca mais usar óculos.

Sinceramente, não sei se estou feliz por essa perspectiva. Me acostumei com o mundo widescreen, com a opção de enxergar ou de ignorar o mundo à minha volta. Eu até tomo banho de óculos para poder lavá-lo durante o banho e deixá-lo sem gordura e limpinho. Costumo dizer que quando acordo, a primeira coisa que eu faço é “por os óculos”; os outros abrem os olhos. Para mim, de nada vai adiantar abrir os olhos, não vou enxergar nada mesmo.

Estou apavorada com essa cirurgia. Não sei se irei me acostumar com o mundo sem bordas, sem sujeira. Com a probabilidade de eu poder passar rímel e não bater os cílios na lente. Com a chance de ver o mundo embaixo d'água perfeitamente. E principalmente, não sei se irei me acostumar a me ver sem óculos. Sei que meu grau é alto e todos me perguntam “mas você não vai fazer a cirurgia?” mas me acostumei com esse par de vidro que me protege do mundo.