segunda-feira, maio 18, 2009

De como um pingo incomoda muita gente

Se acostumar com um chuveiro não é fácil. Não importa quão moderno, bonito ou econômico que seja, é difícil trocar o banho de todo dia por algo diferente. Acontece que eu tenho que trocar o meu chuveiro. Por quê? Por conta de um pingo de água gelada que insiste em acabar com a graça do meu banho. Só por isso.

É sempre assim. Quando estou a fim de um banho demorado, bem quentinho, não agüento mais de quinze minutos. Aquela maldita gota gelada fica caindo no meu pescoço e corta qualquer vontade de ficar dentro do box.

Mas tudo na vida é assim. Não importa quão insignificante algo seja, é como diria minha avó “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. Já conheci relacionamentos que terminaram por motivos, digamos, no mínimo, bizarros. Uma menina terminou com o namorado porque ela odiava quem a cutucava (e ele sempre fazia isso, de acordo com ela; ele, por sua vez, garante que nunca cutucou ninguém). Como um simples indicador pode acabar com um namoro tão bonito? Sem malícias, por favor. Há também os filhos que fariam qualquer coisa só para não morar mais com os pais; tudo isso porque não agüentam ouvir o mesmo diálogo toda vez que chegam em casa.

Para essas coisas, infelizmente não há remédio. Ou usamos a sinceridade e conversamos francamente com quem nos está magoando e sobre o quê ou simplesmente acabamos com o que está nos incomodando, seja acabar o namoro, seja sair de casa. Ah, e claro, podemos deixar tudo como está, até chegar ao ponto onde explodiremos, e acreditem, será bem pior.

No meu caso, como não posso argumentar com aquele pingo gelado, acredito mesmo que a minha solução seja trocar de chuveiro...

sexta-feira, maio 08, 2009

De como a amizade é uma coisa ingrata

Eu sei. Devo me considerar absurdamente sortuda quando o assunto é amizade. Sou uma pessoa muito sociável e, embora não pareça pelas crônicas que aqui publico, sou uma pessoa muito sorridente. Mas, acredito que os textos tristes sejam aqueles em que minha alma fica mais transparente e eu, mais leve. Sem considerar que a crônica depressiva tem mais estilo e charme. Infelizmente, hoje escrevo para desabafar. A amizade é muito traiçoeira, ou, melhor dizendo, a sorte/destino é muito traiçoeiro comigo. (Ó, mundo cruel!!)


Deixando brincadeiras de lado, há muito tempo circulava pela internet um texto que dizia que a amizade é um dos alicerces da vida, que é com ela que formamos nosso caráter e grande parte das nossas vidas. Sem lugares – comuns, não direi que “me diga com quem tu andas e te direi quem tu és”,ok? (hehehehe... mas eu disse...) Se esse chavão dos tempos da minha vó é verdade, então eu sou espetacular. Ponto. Amo cada um de meus amigos, e, sempre que tenho a oportunidade, falo, grito aos quatro cantos do mundo : “Eu te amo, chuchu!”. Mas, vez ou outra me pego muito triste ao pensar que algumas amizades tenham um fim.


Quando entrei na faculdade, não quis fazer amizades pois tinha medo de fazê-las sabendo que teriam prazo de validade. Quatro anos. Nada mais. A maioria é do interior, ou seja, good bye, my friend (Sim, estou colocando uma frase das Spice Girls aqui...). Mas, meu coração mole, e minha incrível facilidade de sociabilidade me pregaram uma peça. Me vejo agora, no terceiro ano de faculdade quase arracando meus cabelos ao pensar que dentro de alguns meses, meu mousse de maracujá irá me deixar. Sim, ele é um ser humano, e não, não desistiu da faculdade. Ele vai mesmo é morar na Europa por seis meses e isso me mata. (“Não consigo pensar na minha vida em Bauru sem você. Ponto”)


Quero que ele aproveite bem a sua estadia lá fora. Quero que ele seja feliz o tempo todo. Mas como todo ser humano sou egoísta, ele é meu também. Um pedacinho bem pequeno, mas é meu sim. Como se não bastasse, além dele, outras pessoas também muito queridas vão. E aí, eu fico aqui, pensando em como meu próximo semestre será deprimente, tentando me enturmar em outras turmas, em plena reta final do curso.


E há também uma galera que aperta o meu coração ao pensar que estão no quarto ano e que, possivelmente eu nunca mais os veja. De verdade. Moro com uma menina desde o primeiro ano e não consigo me imaginar com outra pessoa fazendo compras, ou cantando na sacada. Simples assim. Não dá.


Para a minha enorme felicidade um dos meus maiores medos não se concretizou. Tinha um pavor de pensar que meus amigos da minha cidade natal se esquecessem de mim com o passar dos anos e que, comigo morando sozinha, eu ficasse muito diferente do que era quando os conheci. Explicando melhor, a imensa maioria são meus amigos há, pelo menos, cinco anos. E, mesmo mudando de cenários, habilitando alguns personagens novos, ainda ando com todos eles. Graças a Deus. A parte triste é que antes, andávamos sempre juntos, em bandos de mais de VIINTE pessoas, e hoje, com algumas brigas e desentendimentos, esse grupo se dividiu em outros menores.


Ainda bem que toda a vez que eu volto pra casa, me divido em mil para poder acompanhar todos. Eles são uma boa parte dos meus motivos para aguentar cinco horas de estrada, só para vê-los, ou para comemorar um aniversário.


A amizade é mesmo ingrata. Quando nos aproximamos de alguém, quando deixamos entrar essa pessoa em nossa vida fica muito difícil deixá-la ir. Mesmo. Mas não há, infelizmente, nada que possamos fazer. Sei que também há uma pessoa que também passa pelo mesmo que eu (né, japonesa?) e eu sei que ela deva estar chorando bem mais que eu (se não está ainda, irá). Mas, como eu sei que mesmo alguns grandes amigos que eu tinha na infância e reencontrei ainda são meus amigos, sei que o mesmo irá acontecer. E me dá um ódio tão grande de saber que eu fui estúpida o suficiente para amar todos esses que vão embora.


Mas talvez eu não tenha sido estúpida. Amei e amo, cada momento passado junto a eles. Cada gargalhada, cada dança, cada filme amador feito numa sala em cima de pufs, cada noite perdida (?) em conversas, cada momento, servirá para fazer nascer um sorriso quando eu estiver chorando em casa por conta de uma outra palavra talvez muito mais ingrata que a amizade que é a saudade.


quinta-feira, maio 07, 2009

O Exercício da Crônica

Dessa vez, faço do meu espaço para divagar sobre coisas que não mudam em nada a vida de ninguém, um espaço para aqueles que querem entender o porquê da existência desse blog. Esse texto eu já conheço há algum tempo, mas acredito que vocês possam saber como eu me sinto toda a vez que me sento na frente do computador com muita vontade de escrever.

Com vocês, Vinícius de Moraes


"Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelos personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Como prosador do cotidiano a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de uma máquina de escrever, acende um cigarro, olha através da janela e busca em sua imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado. Alguns fazem-no de maneira simples e direta, sem caprichar demais no estilo, mas enfeitando-o aqui e ali desses pequenos achados que são a marca registrada e constituem um tópico infalível nas conversas do alheio naquela noite. Outros, de modo lento e elaborado, que o leitor deixa para mais tarde como um convite ao sono: a estes se lê como quem mastiga com prazer grandes bolas de chicletes. Outros, ainda, e constituem a maioria, “tacam peito” na máquina e cumprem o dever cotidiano da crônica como uma espécie de desespero, numa atitude ou-vai-ou-racha. Há os eufóricos, cuja prosa procura sempre infundir a vida e a alegria em seus leitores e há os tristes, que escrevem com o fito exclusivo de desanimar o gentio não só quanto à vida, como quanto à condição humana e às razões de viver. Há também os modestos, que ocultam cuidadosamente a própria personalidade atrás do que dizem e, em contrapartida, os vaidosos, que castigam no pronome na primeira pessoa e colocam-se geralmente como a personagem principal de todas as situações. Como se diz que é preciso um pouco de tudo para fazer um mundo, todos esses “marginais da imprensa”, por assim dizer, tem seu papel a cumprir. Uns afagam as vaidades, outros as espicaçam; este é lido por um deleite, aquele por puro vicio. Mas uma coisa é certa: o público não dispensa a crônica, e o cronista afirma-se cada vez mais como o cafezinho quente seguido de um bom cigarro, que tanto prazer dão depois que se come.

Coloque-se porém o leitor, no papel do cronista. Dias há em que, positivamente, a crônica “não baixa”. O cronista levanta-se de novo, chega à janela, dá uma telefonada a um amigo, põe um disco na vitrola, relê crônicas passadas em busca de inspiração – e nada. Ele sabe que o tempo está correndo, que a sua página tem uma hora certa para fechar, que os linotipistas o estão esperando com impaciência, que o diretor do jornal está provavelmente coçando a cabeça e dizendo a seus auxiliares: -“É.. não há nada a fazer com Fulano...” Aí então é que, se é cronista mesmo, ele se pega pela gola e diz”-Vamos, escreve, ó mascarado! Escreve uma crônica sobre a cadeira que está ai em tua frente! E que seja bem feita e divirta os leitores!”

E o negocio sai de qualquer maneira.

O ideal para um cronista é ter sempre uma ou duas crônicas adiantadas. Mas eu conheço muitos poucos que o façam. Alguns tentam, quando começam, no afã de dar uma boa impressão ao diretor e ao secretário do jornal. Mas se ele é um verdadeiro cronista, um cronista que se preza, ao fim de duas semanas estará gastando metade de seu ordenado em mandar suas crônicas de táxi – e a verdade é que, em sua inocente maldade, tem um certo prazer em imaginar o suspiro de alívio e a correria que ele causa, quando, tal uma filha desaparecida, chega e volta à casa paterna."


"Escrever não é inspiração, é transpiração!"